segunda-feira, 30 de junho de 2008

Quando o argumento só vai até a metade

I.L.C.S.
O Veritatis Splendor é assunto rotireito dessa comunidade e eu, confesso, sou seu leitor de rotina. Fico tentando entender sob quais argumentos os conservadores insistem em defender a ortodoxia do Vaticano II.
A frase de Hans Kung publicada com comentários recentemente na Montfort provocou algumas reações favoráveis ao tradicionalismo, pois se tratava de uma franca confissão do modernismo do Concílio.
Não perdendo tempo, eles assim publicaram este artigo[http://www.veritatis.com.br/article/5300], defendendo-se da afirmação do teólogo modernista.
O raciocínio usa do seguinte artifício: não é porque alguém afirmou que isto se torna verdade. Correto. Se Lutero afirmou a sola gratia pela Escritura, esse problema não estava na Bíblia, mas no péssimo leitor que era Lutero.
No entanto, para provarmos que Lutero estava errado, precisamos mostrar no texto que a sua afirmação não procede.
O artigo publicado fez esta analogia. Não é porque um teólogo disse algo sobre o Concílio que significa que isto seja a verdade. Correto também! Mas agora falta a segunda parte: assim como se provou que Lutero estava errado na sua leitura da Escritura, precisamos agora afirmar que a leitura de Hans Kung também está errada pelo texto do Vaticano II. Caso contrário, o argumento veritatiano não chega a produzir efeito. Afinal, a defesa do autor também pode ser uma mera opinião falsa, assim como a de Hans Kung. O que faz a opinião dele ser melhor que a de Kung? Só o texto demonstra se o juízo é verdadeiro.
Esta é a típica defesa dos conservadores: o problema está nos maus leitores, embebidos de um espírito modernista, e não na letra do Vaticano II. Mas precisamos mostrar que a letra é boa, enquanto que a leitura modernista é falsa. E isto faltou no artigo.
Ora, e se Hans Kung é favorável ao Modernismo, ele também é favorável à letra do Concílio. Afinal, graças à letra ambígua que surge esse espírito modernista. Toda a heresia esotérica precisa de uma casca exotérica para se proteger.